Um encontro criativo com Rita Marcalo
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Um encontro criativo com Rita Marcalo
De sorriso fácil, disponível e movida por uma vontade assumida de explorar novos contextos, Rita Marcalo entrou no estúdio da Dançando com a Diferença para se entregar à dança e à partilha com os nossos intérpretes.
Comprometida com a arte enquanto motor social, a coreógrafa portuguesa, que vive na Irlanda, é Diretora Artística da companhia Instant Dissidence (www.instantdissidence.org), sediada na Ecovila de Cloughjordan.
A artista esteve recentemente na Madeira, no Estúdio de Criação Artística, da Câmara Municipal do Funchal, acompanhada pelo performer George Swattridge, para apresentar o projeto: “SlowTides: Viagens Corporizadas e Narrativas Insulares”, que dá continuidade à investigação iniciada com SlowMo (2022–2024).
Em primeira mão, Rita Marcalo partilhou connosco as impressões da aula que fez com a companhia.
“O que mais ficou no nosso corpo foi uma parte da aula dada pelo Milton Branco [Monitor de Dança e intérprete da Dançando com a Diferença]”, começa por dizer. “A trabalhar em pares, frente a frente, o objetivo era movimentar o corpo da outra pessoa como se fosse uma estátua e depois trocávamos. Cada um ia criando uma coreografia com o outro, mantendo sempre contacto físico, de forma muito simples e direta.” O exercício foi tão marcante que Rita e George reutilizaram-no durante a apresentação do SlowTides, acrescentando-lhe uma nova camada criativa.
Embora não tivesse tido contacto prévio com a Dançando com a Diferença, Rita já colaborou com a Candoco Dance Company e outras estruturas na área das Arts and Disability, fruto do seu trabalho artístico e pessoal ligado à epilepsia.
Em 2009, criou Involuntary Dances, uma obra que gerou debate a nível mundial. Desde então, é reconhecida como uma defensora do modelo social da deficiência e do direito das pessoas com epilepsia a decidirem sobre a sua própria medicação. O trabalho originou uma trilogia de obras/filmes sobre epilepsia, e, em 2023, integrou a exposição Dance Not Dance na Fundação Calouste Gulbenkian.
Por fim, sublinhou o que a impressionou nesta troca de experiências com a Dançando com a Diferença.
“A nível pessoal, a forma como fomos recebidos. Toda a gente foi extremamente acolhedora e aberta à nossa presença. Nem sempre é assim com outras companhias.” Já a nível profissional destacou a exigência da companhia. “Percebemos que existe um processo muito estruturado: começa com o condicionamento físico, passa pela improvisação e culmina na parte performativa. Há um percurso muito claro — desde o trabalho físico, da força e flexibilidade, até à criação e à resposta ao outro, e finalmente à apresentação para o público. Isso tudo ficou muito evidente quando assistimos ao espetáculo Os Gigantes [em cena no Funchal no dia 21 de junho, no Teatro Municipal Baltazar Dias].”
O seu encontro com a Dançando com a Diferença deixou sementes para futuras colaborações. Revelou que gostaria de desenvolver um projeto que partisse da seguinte premissa:
“Como criar uma digressão entre diferentes países europeus costeiros, usando transportes sustentáveis (barco/comboio) e envolvendo bailarinos não normativos no processo criativo?”